Apesar das aulas já terem acabado e de eu
ter cumprido meu compromisso acadêmico e da minha orientadora portenha ter praticamente
desaparecido, eis-me aqui procurando um novo lugar para morar já que tenho que
desocupar este entrepiso onde vivo até início de dezembro, quando a
proprietária volta a viver aqui. E este é o motivo pelo qual andei meio
deprimido estas semanas: ter que separar de algo que se ama, seja uma casa, uma
pessoa ou um modo de vida. Descobri que sei entrar - mas que não sei como sair.
Sei como começar, mas não sei como acabar. Enfim, esta deve ser a natureza
humana mesmo: ignorar como é que se acaba uma coisa, como é que se mata ou morre
- como é que se chega ao fim. E eu estou chegando ao fim da minha temporada
portenha; um pouco melancólico por ter que deixar esta velha coquete e voltar a
conversar com aquele guri que vende biscoito de polvilho em pleno trânsito.
Mas ao mesmo tempo em que sofro por ter que
partir, reconheço que vai ser bom voltar para o Rio de Janeiro e que aquilo que
Buenos Aires tinha que me dar me foi dado. Agora, é ver o que a vida ainda
tem a me dar - e que não se resume num pedaço de pampa mesclado com Mar del
Plata, por mais que tenha me afeiçoado a ele na forma de um entrepiso no bairro
de Balvanera, cujas calles foram muito bem demarcadas, muito bem percorridas, como
um cachorro que, ao passear, demarca todo o seu território mijando em todos os
postes.
Mas, às vezes, o território é grande em
demasiado: daí, fico com o nariz empinado, sem saber se vou conseguir enfrentar
essa cota de desconhecido que se me abre a frente.
Não sei onde vou morar. Não sei para onde
foi minha tia que morreu em Minas. E não sei onde está minha orientadora.
Quisera contar um pouco mais com o
Imponderável que de vez em quando me abre a boca.